Silveirinha - A mascote

O Silveirinha

Quando o dono estende a mão, o Silveirinha vai depressa e encosta-se, com o ar mais satisfeito do mundo. Ainda vai mais depressa se for um petisco. Podia ser um cão, mas não, é um mero, uma mascote improvável no armazém de frio que, em São Mateus, se dedica à venda de peixe.

 

A estrela

O Silveirinha já ganhou estatuto de estrela e é a imagem de marca da Peixaria Silveira. A sua história está escrita na parede por trás do grande aquário onde vive com os outros meros mais pequenos. Mas se pedirem a Emanuel Silveira, o dono da peixaria e armazém de frio, ele conta-a. Tudo começou quando o mero, então pequeno, entrou no cofre de um pescador. “Apanhou esse merozinho e veio aqui vendê-lo. Simplesmente pesei-o na balança e ele começou aos saltos. Tinha este viveiro, coloquei-o lá e ele virou-se ao contrário. Com uma agulha espetei o bucho dele e saiu o ar todo. Está aí desde 2010”, recorda. 

Emanuel Silveira explica que há meros que se recusam a ser domesticados, mas o Silveirinha afeiçoou-se aos donos. “Este é mesmo espetacular, dá para a gente lhe fazer festas. É uma maravilha, como se fosse parte da família. Às vezes fica triste e leva dois ou três dias sem comer e nós ficamos tristes também”, diz, com a sua maneira de ser calorosa. Ninguém sabe ao certo qual a razão dos dias menos felizes do Silveirinha, mas pode ter a ver com a comida. “Acho que ele fica farto de comer sempre a mesma coisa. Começou com cavalinha, depois começámos a dar sardinha e agora já anda a comer filetes de abrótea”, conta Emanuel Silveira. Nos dias mais especiais, o mero até come bocadinhos de polvo. Outro gosto do Silveirinha é ficar “pasmado” a ver televisão. Aí não é esquisito, vê de tudo um pouco.

 

Um Mero com atitude

O Silveirinha chegou a ter outro companheiro de peso no viveiro, um rocaz, mas aí a tristeza foi a dobrar. Recusou-se a comer até voltar a ter o seu espaço e toda a atenção. Já chegou gente ao armazém que quis comprar o mero, talvez a pensar numa boa jantarada, mas Emanuel Silveira nem quer ouvir falar do assunto. A maioria das pessoas que hoje em dia faz essa proposta é mesmo só para chatear, pois a notícia de que há ali um peixe de estimação já se espalhou pela freguesia e vai para além dela. “Vem crianças das escolas vê-lo e há muitas que pedem aos pais para virem aqui a São Mateus ao armazém para verem o Silveirinha. Até acaba por ser uma vantagem para mim, porque sempre compram alguma coisa. O Silveirinha também é comerciante”, ri-se.

A dedicação de Emanuel Silveira ao Silveirinha não conhece cansaços. Houve uma vez em que a luz faltou no armazém de frio e a preocupação dele foi agitar continuamente a água do aquário, “para ver se o bicho não morria”. O Silveirinha já pregou alguns sustos à família, mas até agora tem-se aguentado, pachorrento e com boa cara.

Emanuel Silveira não faz ideia de quanto tempo pode um mero durar num viveiro.. No mar, a espécie aguenta “anos e anos”. Uma coisa é certa. No dia em que o Silveirinha morrer, “vai ser uma tristeza nesta casa”.